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Uma pequena grande história

“Para os jovens que se estão iniciando na nobre, valorosa e digna carreira do jornalismo, fazemos um apelo sincero e ardente, para que procurem conhecer a vida e a moral de quantos já enveredaram por essa senda tão difícil, para que se não deixem, afinal, ser transformados em instrumento nas mãos indignas de homens sem dignidade”.

                                   - Godofredo Tinoco

“Terra dos índios Goitacás” ou simplesmente “A Cidade do Chuvisco”, muitos são os nomes atribuídos à antiga Vila de São Salvador, elevada à categoria de cidade em 1835. O que poucos sabem é que o maior município do interior do Rio de Janeiro, Campos dos Goytacazes, carrega, também, mais de 180 anos de tradição na história da imprensa brasileira.


O primeiro jornal da cidade foi o manuscrito intitulado o “Espelho Campista”. Criado em 1826, por Prudêncio Joaquim Bessa, tornando Campos a pioneira no jornalismo da região Fluminense. Já o primeiro produzido em máquina, surgiu da tipografia encomendada na Europa pelos fazendeiros Manoel Pinto Netto da Cruz (Barão de Muriaé) e Gregório Francisco de Miranda (Barão da Abadia) sob o pretexto de ensinar francês às suas filhas. O “Correio Constitucional Campista”, de propriedade de Antônio José da Silva Arcos, marcava o início dos jornais impressos no município.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


 

 

 

 

 

Um dos mais importantes jornais, que até hoje está marcado no imaginário da população e de quem ajudou a encher suas páginas, foi criado em 1846: o “Monitor Campista”. Surgido da fusão entre o jornal “Novo Recopilador Campista” e “O Monitor”. Sua redação foi a primeira a receber luz elétrica, antes mesmo das empresas do Brasil e da América do Sul. 


O jornal, que foi o terceiro mais antigo do país, fechou as portas em 2009. Entretanto, os jornalistas que passaram por sua redação jamais o esqueceram. Exemplo disso é Luisa Ritter, última estagiária do Monitor Campista. Presente e passado se encontram nas falas da jovem que começou a estagiar no terceiro período da faculdade, no ano de 2006. Foram seis meses trabalhando na Folha da Manhã, quando recebeu o convite para estagiar no Monitor. 

Formatura de Luiza Ritter no Trianon: "Meus amigos do Monitor sempre presentes nos momentos especiais da minha vida!"

Com o fechamento do anteriormente jornal mais antigo da cidade, Luisa só teve uma escolha, voltar a sua cidade natal, Resende. Ela lamenta o fechamento do Monitor e relembra o quanto aprendeu na redação do mesmo: “Até hoje eu penso que caso o jornal não fechasse eu ainda poderia estar em terras campistas. O tempo que pude trabalhar no Monitor foi e é

muito valioso ainda na minha carreira. Além do peso prático no meu currículo, coisa que eu sempre menciono em entrevistas de emprego e com colegas de profissão daqui, a experiência obtida no dia a dia da redação valeu mais que a faculdade. Todos que faziam parte da equipe eram amigos uns dos outros. Isso era outro fato que me faz sentir muita saudade dessa época, a amizade e zelo que cada um tinha pelo colega ao lado da sua mesa. Era incrível isso. Coisa que, sinceramente, eu não sei explicar. Não posso dizer que o Monitor foi mais uma etapa da minha vida, seria muito pouco”.


Em 16 de abril de 2014, o acervo do Monitor retornou à cidade de Campos, trazendo também recordações daqueles que não apenas o admiravam, mas que contribuíram para a criação de cada página.O pesquisador e escritor, Hélvio Cordeiro, entrou no Monitor Campista no ano de 1987 e nele permaneceu por 20 anos, se aposentando em 2007 como revisor do jornal. O escritor também ficou responsável pela organização do acervo do Jornal, trabalhando dia e noite para restaurar sua história. “Quando me foi pedido para organizar a coleção do Arquivo do Jornal Monitor Campista, encontrei muitos livros cheios de sujeira e umidade e muitas páginas danificadas e rasgadas. Consegui arrumar o arquivo que, em seguida, foi aberto para atendimento público e consultas dos pesquisadores, conseguindo através de cursos de restauração, resgatar muitas páginas danificadas”. 

 

Atualmente, o acervo do Monitor, que conta com 273 edições, se encontra no Arquivo Público Municipal Waldir Pinto de Carvalho, em Tócos.

PASSADO X PRESENTE

Hoje, em Campos, apenas dois jornais impressos permanecem preenchendo as bancas da cidade: O jornal “Folha da Manhã” e “O Diário”. As mudanças causadas pela ascensão das tecnologias tiveram e ainda têm impacto direto no jornalismo, entretanto os verdadeiros amantes da profissão seguiram defendendo, amando e valorizando a arte de dar voz ao povo. 

Segundo Hélvio, que passou pelas grandes mudanças sofridas pela imprensa campista, o jornalismo foi afetado pelas mídias sociais.“Costumo dizer que no passado era um jornalismo mais sério, romântico, individualista, onde os jornalistas buscavam sempre a apuração e publicação de uma matéria exclusiva, conhecida à época como “furo de reportagem”. A briga por um furo de reportagem era saudável, porém buscada incessantemente por todos os jornalistas, tanto estagiários quanto os profissionais da imprensa. Hoje, além de quase não se ver mais essa coisa de uma matéria exclusiva, existe a cumplicidade entre os jornalistas, com as informações sendo difundidas entre eles, através de uma informação por Face, Bate-papo, Whatsapp e outros tipos de contatos na mídia moderna”, contou.

Figura consagrada na imprensa campista, com mais de 40 anos de profissão, o professor e jornalista Orávio de Campos Soares, que já trabalhou em importantes jornais da planície, como o “A Cidade”, “A Notícia”, o “Correio e Campista” e “Folha da Manhã”, recorda de seu período em atividade como repórter e as mudanças sofridas pelo jornalismo nas últimas décadas. 

“Fui jornalista leigo por um bom tempo. Entrei para a imprensa no final dos anos 50 como repórter de polícia. Ser jornalista durante o AI-5 foi um tremendo desafio que me levou a prisão várias vezes. Era uma época em que o jornalismo tinha uma ideologia política mais forte. Era na fase romântica do jornalismo. Quando o jornal sai dessa fase e assume sua ‘profissionalidade’, a natureza das informações se arrefece e a impetuosidade do jornalista diminui. Hoje temos internet, celular que tira foto, podemos editar à distância, temos os computadores e não as máquinas de escrever - que faziam uma barulheira danada nas redações. As questões técnicas evoluíram, a parte industrial evoluiu, mas o artesanal do jornal, a parte intelectual tem decaído muito. O jornalismo hoje está sofrendo uma crise violenta de identidade, espero que não seja paralisante”, finalizou. 

Hévio Cordeiro operando uma máquina de linótipo
Professor e jornalista Orávio de Campos Soares
Por: Bárbara Cabral, Catarine Barreto e Kariny Maia
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