Paula Vigneron dispara "Sete balas ao luar"
- Jhonny Diorel
- 3 de set. de 2015
- 3 min de leitura
Atualizado: 4 de abr. de 2020
Livro de contos reúne textos da estudante de jornalismo e escritora de 22 anos
"Escrever, para mim, é a forma de despejar todos os sentimentos e pensamentos mais confusos que, de outra forma, eu não conseguiria colocar para fora. É uma maneira de manter as coisas em ordem para seguir o dia a dia", Paula Vigneron.
Aconteceu na noite da última sexta-feira (4), às 20h, no Espaço Cultural do Sinasefe (Sindicato dos Servidores Federais), situado à rua Álvaro Tâmega, n°132, no centro de Campos, o lançamento do primeiro livro da jornalista e escritora Paula Vigneron, "Sete Balas ao Luar", editado pela Autografia.
O livro traz 32 contos que retratam o cotidiano, as dores das perdas, situações densas, irônicas de fatos reais e fictícios, que transitam entre a inexperiência e a maturidade.
Trajetória
Tudo começou quando Paula ainda tinha 15 anos e se definia como uma adolescente tímida. Ela encontrou, então, nas palavras a melhor forma de expressar os seus desejos, sentimentos e emoções. Através da literatura, a escritora, hoje com 22 anos, conta que chegou a muitas descobertas pessoais e profissionais, sendo a principal delas a de ser jornalista, tendo também todo apoio e influência de sua mãe.
Inicialmente, estudante de psicologia pela Universidade Federal Fluminense (UFF), migrou para o teatro. Mas, foi no jornalismo que Paula encontrou a sua verdadeira vocação e profissão. Começou na Folha Online, versão digital do jornal Folha da Manhã, e atualmente escreve para a Folha Dois, editoria de cultura do mesmo jornal.
Estudante do curso de Jornalismo da Centro Universitário Fluminense (UNIFLU), onde se forma ainda este ano, ela conta que absorveu grande influência e recebeu muito apoio de professores como o jornalista Vitor Menezes, que, inclusive, assina a orelha da obra.
Leia um trecho em primeira mão:
Sob o Luar
Cinquenta metros. Rua escura. A arma, ainda carregada, era a prova da discussão que acabara de ouvir. Caminhou até o portão. Mais uma vez, os vizinhos faziam escândalo na rua. Entre gritos de “eu vou embora”, “eu quero que você morra” e um solitário “eu te amo”, saí- do da boca de uma pequena criança, os dois fizeram as pazes e voltaram para dentro da casa.
Atrás do muro, ele acabara de acompanhar a grotesca encenação teatral, que já fora apresentada outras tantas vezes. O revólver, agora perdido em sua calçada, era personagem secundário, mas imprescindível. Dessa vez, ele fora esquecido sobre as pedras e sob a lua.
Ao escutar o bater da porta ao lado, ele abriu o portão. Olhou ao redor e não percebeu movimentos na rua. Vivia sozinho em um bairro isolado desde que saíra de casa, há dois anos. Pensou que, dessa maneira, poderia abrir mão de conflitos que não tivera a capacidade de solucionar. Enganou-se. Depois de algumas tentativas para retomar a antiga vida, viu-se largado. “Não adianta. Você perdeu a sua chance e o seu tempo.
Não ha mais lugar para você aqui.” Foi a última frase que ouviu, lançada aos berros de uma janela.
Desde então, dedicou-se ao trabalho e à sua nova casa, evitando pensar que poderia ser diferente. Foi promovido, considerado o melhor gerente dos últimos anos e elogiado, inúmeras vezes, por seus superiores. Todos o olhavam com admiração. Ninguém sabia que, por dentro, era consumido diariamente por um crescente incômodo.
Aproximou-se da arma e a olhou. A única vez que estivera perto de algo semelhante foi na fazenda de seu avô, que costumava caçar animais. Ele tinha 10 anos. Pegou o revólver. Criança. Adolescente. Amigos. Brigas. A primeira namorada. O primeiro porre. A melhor transa. Casamento. Amigos. Risadas. Transformações. Mudanças. Desfechos. Tempo escorrendo pelos seus dedos. O cano estava levemente arranhado. Não sentia mais o peso em suas mãos.
“Pai, perdoa-me. Eu sei o que faço.”
Serviço:
Livro: "Sete balas ao luar" Ano: 2015 Autora: Paula Vigneron Editora: Autografia Número de páginas: 174p. Preço: R$ 37 Onde comprar: no site da Editora (Clique no link http://goo.gl/nuql3a), no evento de lançamento por R$36 e no Festival Doces Palavras (FDP!), onde será novamente lançado, em 27 deste mês, pelo mesmo valor.