Antes de consumir, a necessária seleção da arte
- Jhonattan Reis
- 15 de fev. de 2016
- 2 min de leitura
Atualizado: 6 de abr. de 2020

Consome-se muita música no Brasil. Mais que essas, no país, consome-se "música". Entre aspas para o caso da maioria das obras "de sucesso" mais recentes, fabricadas, em geral, com qualidade menor a cada dia que passa e massificadas pela grande mídia.
Os brasileiros, em sua maioria, têm consumido música com pouquíssima exigência. A maior parte dos álbuns e shows que são vendidos por um preço maior na "pátria amada" são dos grupos que têm "patrocínio" da indústria cultural e grande aprovação da massa. Em contrapartida, pouca qualidade musical (quando falo em qualidade, penso nos arranjos, nas letras, na harmonia...).
A cultura de um indivíduo está relacionada aos costumes que são adquiridos por ele através do que recebe durante sua história, sua bagagem cultural. Não podemos, então, dizer que uma pessoa não tem cultura. Mas, a meu ver, uma cultura rica e outra empobrecida podem ser colocadas em pauta.
Não pense que o fato de alguém ouvir o que a mídia impõe — sem nenhuma exigência ou filtro por parte do público — não influencia no mercado cultural do país. Pois, sim, influencia. Esses produtos escutados — mesmo que por aparelhos portáteis e sem nenhum valor de compra, obtidos por download gratuitamente (por muitas vezes de forma ilegal) — começam a ser compartilhados cada vez mais, até que esses grupos de menor qualidade, mas apontados como os mais ouvidos, são colocados na frente de outros que possuem um produto mais elaborado, mas que não têm atenção da massa. Fazendo comparação bizarra, é como se um carro como o d'Os Flintstones, feito de madeira, fosse vendido em maior quantidade e mais caro que um dos fabricados em 2015.
Essa falta de seleção crítica de produtos consumidos faz com que os artistas que se empenham em fazer um bom trabalho, sem ter atenção das mídias, sejam desvalorizados, enquanto os que não demonstram tanto esforço — estou sendo generoso com o “tanto” — são priorizados por conta da influência da indústria cultural.
Simplesmente, os meios de comunicação para a massa estão sugerindo a música a ser consumida pelos brasileiros. Forró e xaxado, por exemplo, tinham como grande referência o artista nordestino Luiz Gonzaga. Nos tempos atuais, os mesmos ritmos dão vez, na maioria dos casos, a "compositores" que pouco trabalham arranjos musicais e falam de bebidas, relações sexuais e badernas. Acredito que música para animar e entreter não se faz apenas dessa forma.
Penso que os brasileiros precisam conhecer mais as diversas vertentes musicais — assim como outras expressões artísticas. Não falo aqui de priorizar um ou outro ritmo, nem região ou outra do Brasil, mas apenas de qualidade. As pessoas desta nação necessitam, também, selecionar melhor o que compram em questão de arte e "arte". Isso porque precisam passar a escolher o que consomem e não ter suas culturas empurradas pela grande mídia.
Ninguém vai comprar uma casa e escolher a que tem mais infiltrações e rachaduras só porque alguém indica. Com a arte não pode ser diferente. Se o brasileiro não acabar com a indústria cultural, a indústria cultural vai “acabar” com a cultura do brasileiro.