top of page

Covid-19: crise no comércio faz surgir empreendimentos criativos

  • Foto do escritor: Fred Miranda
    Fred Miranda
  • 29 de jun. de 2020
  • 4 min de leitura

Mulher, de máscara, passando em frente a uma loja fechada

Foto: Ricardo Stuckert / FotosPublicas


Segundo a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe, a América Latina sofrerá a pior crise social em décadas, com milhões de pessoas passando por desemprego e pobreza. Segundo o órgão, vinculado à Organização das Nações Unidas (ONU), a pandemia provocada pelo novo coronavírus fará a economia brasileira encolher 5,2% neste ano. Tal projeção, somada à severidade da crise econômica iniciada em 2014 sobre o mercado brasileiro, cujo ápice ocorreu em 2016, segundo informações da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS), aponta que o cenário é catastrófico no horizonte dos comerciantes.

O município de Campos dos Goytacazes, que já vinha apresentando retração em todos os setores de atividades econômicas nos últimos anos, deve seguir essa tendência - o impacto da crise provocada pela pandemia, somado ao histórico da economia da cide, só será mensurável em nível macro no médio prazo. De acordo com o Anuário da Prefeitura de Campos (2018), o setor do Comércio é responsável por aproximadamente 28% de todos os postos de trabalho formais da cidade. O comércio ocupa uma posição de destaque na economia local, já que o município é centrado no comércio e na prestação de serviços, tanto na formação de renda como na oferta de postos de trabalho.


Segundo as estatísticas divulgadas pela própria Prefeitura da cidade nos últimos anos, a crise econômica de 2014 afetou significativamente o mercado de trabalho do Estado do Rio e, consequentemente, da planície Goytacá. São aproximadamente seis anos consecutivos de retração econômica, isso é ainda mais impactante levando em consideração o perfil médio dos estabelecimentos comerciais de Campos.



Fonte: MTE – RAIS (2016) / Reprodução Anuário da Prefeitura de Campos (2018)


Mais de 80% dos comércios campistas são geridos por microempreendedores que dispõem de até nove funcionários. Estabelecimentos de porte tão pequeno são os mais abalados em cenários de crises prolongadas como a atual. Como será empreender num cenário tão desafiador? Foi uma das coisas que perguntamos a Filipe Viana (https://www.instagram.com/cookiebosscampos/), empreendedor que justamente foi abrir sua empresa em meio à pandemia de coronavírus.



Como tem sido começar a empreender exatamente durante este período de crise sanitária e econômica?


Filipe Viana - Não tem sido fácil. É preciso pensar fora da caixa. Primeiramente, precisamos compreender o atual cenário em que vivemos. É preciso ter a mente aberta e se desprender do comodismo. Se sua empresa funcionava de uma forma antes da crise, agora não mais; se reinventar é necessário. Eu ainda tive sorte, porque eu iria abrir [um quiosque alugado no Shopping Avenida 28] um mês antes de começar essa questão de quarentena. Eu só não abri porque não estava encontrando um dos materiais necessários, e, quando eu achei, a entrega iria demorar muito. Então eu tive que acabar adiando por esta questão.



Querendo ou não, essa quarentena acabou me trazendo uma oportunidade. A oportunidade de trabalhar com delivery. Porque essa questão de entrega é um mundo diferente de um comércio; você tem que pensar em embalagem, em como esse produto vai chegar ao cliente, então é um nicho diferenciado. Eu não queria trabalhar com isso agora. Eu queria só ter a minha loja física e não ter essa preocupação com entregas. Só que, diante da situação, eu estou tendo que aprender, me preparar para isso. E, quando eu puder ter minha loja física, eu vou conseguir associar as duas coisas por conta de já ter experiência. A partir daí, eu vou poder aumentar bastante o meu faturamento porque não vou me limitar mais só ao ponto físico.


Agora, nesta quarentena, eu estou com tempo, já que está tudo paralisado. Então, eu estou usando esse tempo para aprender a função de entregas, que também é uma necessidade. Eu vejo como uma oportunidade. Vou manter o delivery até sentir que as pessoas voltaram às suas atividades normalmente. Meu foco está na população porque não adianta o comércio abrir e as pessoas continuarem com medo de sair.


Quais são os principais desafios em meio a tanta incerteza?


Filipe - Os desafios são muitos. Desde o marketing até a logística. Desafio de planejar estoque e até mesmo em quanto investir em matéria-prima sem ter uma data específica de quando essa crise vai acabar. É época de poupar investimentos e um cálculo errado pode significar grandes prejuízos para a empresa.


Eu acredito que muitos comerciantes começaram a trabalhar com entregas por conta de não poderem abrir seus comércios. Acho que todos eles deveriam ver isso como uma oportunidade também de manter futuramente quando puderem abrir. Acredito que o comércio, de um modo geral, vai mudar porque, se você parar para analisar, muitas lojas, muitos lugares que nunca trabalharam com entrega acabaram tendo que aderir a isso.


Em termos de porte e estrutura, como funciona a sua operação?



Filipe - Minha loja é pequena, trata-se de um quiosque que seria inaugurado em um shopping. Diante do início da pandemia tive que cancelar a inauguração. Como contramedida, vendo minha casa abarrotada de caixas, insumos, matéria-prima, tudo parado e nenhum dinheiro entrando, resolvi usar as ferramentas que tenho e montei um sistema de encomendas.


Hoje trabalho em casa, um apartamento pequeno, então fica inviável contratar alguém. Tive que me organizar para dar conta de tudo sozinho. Produzo, faço a parte de marketing, atendo os pedidos e despacho para entrega.



Qual mensagem você deixaria para a população de Campos e para quem pretende ou precisa empreender na cidade?


Filipe - Sejam fortes! É momento de ponderarmos muitas coisas em nossas vidas. Precisamos viver só com o necessário. Isso é momentâneo, vai passar. Aproveitem para tirar experiência disso tudo, e quem quiser empreender neste momento faça com cautela. Não é fácil, mas com muito esforço e dedicação é possível. Ninguém está sozinho, estamos todos juntos, e, com certeza, você terá alguém com quem contar.


Foto: Arquivo Pessoal


Comments


bottom of page