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Em estado de greve

  • Mariana Manhães
  • 30 de abr. de 2016
  • 3 min de leitura

Atualizado: 6 de abr. de 2020


Foto: Mariana Manhães

O dia 6 de abril começou cedo, por volta das dez para as seis da manhã. O caminho até o distrito de Ururaí foi calmo, apesar do leve trânsito na estrada. Depois de atravessar ruas movimentadas por estudantes que caminhavam rumo à escola, chegamos ao CIEP João Borges Barreto, onde 39,7% dos funcionários aderiram à greve Estadual.

A escola, palco da greve há mais de um mês, estava calma e manteve suas atividades normais – tanto quanto possível. As crianças circulavam pelo corredor, cada uma em direção à sua sala. Separei-me daqueles que conhecia e fui para a sala dos professores, a fim de conversar com os que estivessem dispostos. Não foi difícil encontrar alguém que me contasse sobre a situação da greve. Sentei-me com Raquel, professora de ciências. Ela não aderiu à greve, pois trabalha no CIEP há apenas um ano.

“Estou em estágio provatório, então preferi não aderir à greve, mas não sou contra. Eu não assumi porque tenho medo, né?!”, contou quando perguntei suas razões para não participar do movimento dos professores. “Sou a favor da greve, só não aderi. Eu não tenho reserva. Se cortar meu pagamento, o que eu vou fazer pra pagar as contas?”, indagou-me de forma retórica.

A insegurança não atinge só Raquel, atinge os professores Lívia e Leo, que também não aderiram à greve. “Vários motivos me levaram. Primeiro, eu acho que o Brasil tá passando por um momento difícil. O Governo Federal está enfrentando um problema sério, que ocupa o lugar de um problema menor, que seria o Estado do Rio”, explica Lívia.

“Eu acho que a greve é justa. A gente vem há muito tempo sem o aumento salarial. Então, no momento que a gente vive de inflação, há uma perda salarial, os produtos aumentam e nosso salário não”, ela continua a contar, justificando a greve, apesar de ter escolhido continuar trabalhando. “Trabalho pelo Estado há 25 anos, estou próxima de me aposentar. Devido à situação em que estamos, isso pode me implicar um atraso de uma aposentadoria, porque se a greve for julgada ilegal, a gente não sabe, num governo instável como este, o que pode acontecer. Porque a gente trabalhando normal, o governo muda a data de pagamento, paga parcelado, faz tudo ao contrário do que a lei diz”.

Leo, que como Raquel, está em estágio provatório, pois trabalha no CIEP há menos de três anos, diz:

“Você sabe o risco que a gente corre, por isso que eu não aderi à greve. Como Lívia falou, a greve é justa, só que eu não tenho essa coragem de fazer a greve porque estou em estágio provatório e posso ser mandado embora a qualquer momento”.

Do outro lado da moeda, está Zé Renato, professor de história grevista. Ele é um dos “cabeças da greve” e a defende, como os outros. Ele aceita as justificativas de quem não aderiu à greve, apesar de julgar essencial a presença de toda a categoria.

“São vários motivos que levam uma pessoa a aderir. Se você for falar de uma maneira generalizada, é por causa do descaso. O descaso já vem vindo ao longo dos anos, mas esse ano agravou porque você vê que a educação está um caos. Se você for olhar motivos pontuais, existe a demissão dos porteiros, do pessoal da limpeza que tá sem receber, merenda racionada, infraestrutura fraca. Quando digo isso, não digo só da minha unidade escolar, eu digo de todo o estado. Fora a questão salarial. Eu acho, pra responder de uma maneira objetiva, é por causa do tratamento que o governo dispensa pro professor e pro funcionário público”.

Ouvindo sua resposta sobre o porquê de aderir à greve, uma curiosidade me atingiu. Pergunto-lhe se tem medo do que o Estado pode fazer. A resposta veio em um piscar de olhos. “Não, eu não tenho medo. Eu sei que alguns colegas têm, mas eu não tenho medo nenhum”, disse-me, confiante. “Pra você ter uma ideia, eu saí da escola na quarta-feira. Era 8h40, quando dei minha última aula, às 12h eu já tinha retornado só pra aderir”, continuou contando.

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