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Campanha Política: o mercado de jingles políticos em alta em Campos dos Goytacazes

  • Pablo Pitote
  • 12 de nov.
  • 5 min de leitura

Durante a campanha eleitoral de 2024, o mercado musical em Campos dos Goytacazes viveu um intenso aquecimento na produção de jingles políticos. Esses refrões curtos, mas de fácil memorização, desempenharam um papel crucial na propaganda eleitoral, gerando forte engajamento entre eleitores e candidatos. Ao longo do período da pré-campanha, produtores locais e regionais trabalharam em ritmo acelerado para atender à crescente demanda por melodias únicas que representassem as propostas dos candidatos e permanecessem na memória do eleitor.


Igor Saliência (Foto: Divulgação)
Igor Saliência (Foto: Divulgação)

Quanto custa um jingle eleitoral?

Os preços dos jingles variam de acordo com o ritmo e a exclusividade desejada pelo candidato, mas, em média, os valores ficam entre R$700 e R$30 mil. Esses preços refletem um processo que inclui desenvolvimento criativo, composição, gravação e produção musical, desde a letra até a escolha do estilo que melhor represente o candidato. Igor Saliência, cantor e compositor local, famoso pelos jingles “Pode Correr” do atual prefeito Wladimir (PP) e a versão forró de “Vou Votar” da candidata Delegada Madeleine (UNIÃO), revela que a demanda em anos eleitorais é tão intensa que ele e sua equipe fora dos palcos chegam a produzir até quatro jingles por dia. “A campanha é um dos períodos mais rentáveis no mercado musical. Desde a pré-campanha, já dei uma afastada dos palcos pra focar nesse trabalho”, explica. Ele destaca o dinamismo do mercado: “Muitas vezes, o candidato precisa de algo urgente, e temos que criar em poucas horas, sempre buscando um refrão que ‘grude’ e tenha pegada.” Segundo Igor, a pressão pode ser grande, mas o resultado compensa: “Ver um jingle meu sendo cantado nas ruas da nossa Planície é a maior recompensa.”


R10 (Foto: Divulgação)
R10 (Foto: Divulgação)

A produção: como é feito um jingle de campanha

A criação de um jingle não é uma tarefa simples e segue uma linha de produção bem definida. R10, DJ e produtor musical que gravou seus jingles de forma autônoma, explica que montar um home studio foi a solução para conciliar a alta demanda com a equipe reduzida. “Tive que montar um estúdio em casa para poder trabalhar nos jingles sem depender de ninguém. Aqui eu faço tudo, desde a composição até a finalização da master”, diz. Ele enfatiza que o processo de produção, que inclui composição, gravação, mixagem e masterização, pode levar até duas semanas, mas muitas vezes precisa ser acelerado: “Já tive casos de entregar um jingle em 24 horas porque o vereador precisava com urgência.”


Caio César (Foto: Reprodução/Redes sociais)
Caio César (Foto: Reprodução/Redes sociais)

Caio César, cantor e compositor campista, destaca que a escolha do ritmo é crucial para o sucesso de um jingle. “O ritmo certo não só ajuda a passar o recado como também faz o candidato ser lembrado. Pagode, piseiro e funk são sempre populares, mas a música precisa vir com uma mensagem mais direta para funcionar de verdade”, comenta. Ele ainda acrescenta: “Às vezes, a simplicidade é o segredo. O jingle não precisa ser complexo, mas sim fácil de cantar e memorizar. Quanto mais ele grudar na cabeça, melhor.”



Fabricio Nascimento (Foto: Pablo Pitote)
Fabricio Nascimento (Foto: Pablo Pitote)

Jingles nas redes sociais: uma nova estratégia

Com as redes sociais assumindo um papel crucial nas campanhas, produtores investem cada vez mais na divulgação de jingles em plataformas como TikTok, Instagram e YouTube. Esses vídeos não apenas chamam a atenção dos candidatos, mas também ajudam a popularizar as músicas, gerando um engajamento mais orgânico entre os eleitores, que compartilham e comentam os jingles espontaneamente. Fabrício Nascimento, coordenador de campanha e especialista em mídias sociais, revela que para atender às demandas atuais, decidiu ampliar sua estratégia digital: “Este ano, contratei alguns social medias porque não basta só produzir um bom jingle, é preciso fazer com que ele alcance o maior número de pessoas possível nas redes.”


Ele explica que o objetivo não é apenas que a música seja tocada em carros de som ou eventos de campanha, mas que se torne um fenômeno online. “Queremos que o jingle engaje, que os eleitores compartilhem, façam dancinhas, usem em vídeos. Quando acontece isso, a música deixa de ser só propaganda e vira um movimento de apoio ao candidato”, comenta. Fabrício acrescenta que a interatividade das redes transforma o jingle em algo vivo: “Cada vez que alguém usa a música em um vídeo, ela ganha novas interpretações, e isso fortalece ainda mais a campanha.”


Felipe Hiliel (Foto: Arquivo Pessoal)
Felipe Hiliel (Foto: Arquivo Pessoal)

Regras para o uso dos jingles na campanha

Porém, a produção e o uso dos jingles não estão livres de restrições legais. Segundo Felipe Hiliel, advogado especialista em Direito Eleitoral, é importante que candidatos e produtores estejam atentos às normas vigentes para evitar sanções. “Os jingles não podem fazer pedido explícito de voto durante a pré-campanha. Além disso, ao serem utilizados em carros de som ou trios elétricos, devem obedecer a limites de volume e horários determinados pela legislação”, explica. Ele ressalta que o descumprimento dessas regras pode resultar em multas ou até mesmo em impugnações de candidaturas.

Outra questão relevante, conforme Hiliel, é a proibição do uso de paródias de músicas famosas sem a devida autorização. “ Uma resolução recente do TSE, definiu que os autores das músicas originais têm mais poder para exigir judicialmente a interrupção de campanhas que utilizem suas obras indevidamente”, afirma. Ele acrescenta que muitos candidatos subestimam esse aspecto e acabam enfrentando problemas jurídicos. “É sempre mais seguro investir em composições originais, tanto para evitar processos quanto para garantir uma mensagem autoral”.


Geraldo Pudim (Foto: Reprodução/Redes Sociais)
Geraldo Pudim (Foto: Reprodução/Redes Sociais)

O impacto do jingle no eleitorado

O Coordenador de Campanha e ex-deputado Geraldo Pudim, conhecido na Cidade pelo jingle “Chegou Pudim”, que marcou a política campista na eleição de 2010, destaca o valor emocional que os jingles exercem durante uma campanha. “Essas músicas funcionam como um ‘louvor bem-humorado’, criando uma conexão afetiva e, muitas vezes, duradoura com o eleitor. A simplicidade nas mensagens é o que faz que ela seja absorvida rápido e lembrada por muito tempo”, explica. Para Pudim, a força do jingle não está apenas na repetição, mas na capacidade de sintetizar os sentimentos da campanha em poucos versos.


Além disso, ele enfatiza que os jingles oferecem uma interação lúdica com a política, o que é especialmente importante em campanhas locais. “Quando o eleitor canta ou ouve o jingle, ele participa ativamente na campanha, mesmo que de forma indireta. Isso fortalece a presença do candidato na comunidade e cria um senso de proximidade.” Pudim também observa que, embora o mercado musical em Campos dos Goytacazes se esfrie após as eleições, os refrões simples e diretos continuam ecoando na memória coletiva. “Muitas vezes, esses jingles sobrevivem ao período eleitoral e se tornam parte da cultura popular local, criando um impacto que ultrapassa a campanha.”


Após as eleições, o mercado musical de Campos dos Goytacazes e outras cidades pelo Brasil se esfria, e os artistas e produtores voltam para as suas rotinas normais de trabalho. Já esses refrões simples e diretos se consolidam, criando um impacto que ultrapassa a campanha e ecoa na memória do eleitorado local.

 
 
 

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