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Amor fora de época

  • Mariana Manhães
  • 15 de ago. de 2016
  • 2 min de leitura

Os ponteiros do relógio marcavam nove horas quando Fabrício Carpinejar subiu ao tablado da Arena Cultural da 9ª Bienal de Campos. Ele não ficou parado por muito tempo, fez do chão o próprio palco e do público, amigos próximos. Tão próximos, que ele se permitiu propagar opiniões e situações íntimas. É engraçado fazer graça do amor. Ouvir situações que parecem tão pessoais saírem da boca de outra pessoa, faz com que mudemos nosso ponto de vista. De repente, um sofrimento é só mais um sofrimento. Nas palavras do próprio poeta, cronista e jornalista, sofremos muito mais pelo que imaginamos. Quando olhamos de fora, ou quando o fazem por nós, já que muitas vezes somos incapazes, percebemos que o mundo é muito maior que o próprio umbigo. Vivemos para sofrer e, de longe, sofrer por amor é a melhor opção de todas.

Em tempos de seca, chova amor. Reaprendi – porque volta e meia me esqueço – que é plausível fazer de um relacionamento algo sério, mas sem seriedade. Ceder é inteligente e mudar é possível, ainda que não mudemos nós mesmos. Nossas atitudes falam alto, porque em um verdadeiro diálogo, percebemos que o amor nunca sai da gente e que só o procuramos nos lugares errados – nos outros. Como citou Carpinejar,o espelho não é uma janela. O outro nunca será o nosso reflexo, nunca atenderá nossas expectativas. Essa é a graça dos relacionamentos: surpreender-se.

Também fui surpreendida por Carpinejar, o que é bem natural, se pensarmos que nenhum ser humano é igual ao outro. Ouvir o gaúcho com seu jeito despojado criticar a dança do ventre me feriu gravemente. Sua voz estridente e o tom debochado ao falar que "nenhuma dançarina está em forma" não me passaram despercebidos. Eu, que talvez deteste surpresas tanto quanto o próprio, acabei com o ego ferido. Como aprendiz de dança do vente, fiquei tentada a tirar meu coturno e jogá-lo pelo ar para atingir o falante das palavras cruéis.

Apesar dos sentimentos negativos quanto às surpresas, ressalto que algumas valem a pena serem vividas. Surpresas são como o carnaval fora de época ou o dia dos namorados: detestamos a expectativa, mas conseguimos tirar proveito, nem que esse seja apenas um sorriso divertido de ironia ou uma história sem noção para contar no futuro.

 
 
 
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