A várzea como ela é
- goitacainforma
- 28 de jun. de 2022
- 3 min de leitura
Repórter: Luis Roberto
O futebol sempre foi um esporte do povo. É ali que os garotos de classes mais baixas encontram uma maneira de sair da vida que por várias vezes era medíocre. O esporte salva muitos do tráfico, das drogas e do crime, o refúgio sempre foi o esporte bretão.
Ali foi o lugar em que diversos jogadores profissionais deram seus primeiros passos. Denílson, pentacampeão mundial com o Brasil, Leandro Damião, hoje no Kawasaki Frontale do Japão e com passagens por times como Internacional e Flamengo, Michael, atleta do Al-Hilal e com recente passagem pelo Flamengo, sempre falou com orgulho de seus tempos de várzea. O jogador já disse em entrevistas que ganhava R$20 a cada partida que jogava e para pagar contas em casa, chegou a jogar 5 jogos no mesmo dia. Também tem os que fazem o “caminho inverso”. Recentemente o zagueiro de 37 anos, nascido em Piracicaba SP, Maurício Ramos, ex-jogador do Palmeiras foi anunciado como reforço do E.C Enquadros, time amador de Sorocaba, cidade do estado de São Paulo.

Foto do anúncio da contratação de Maurício Ramos no E.C Enquadros
Fonte: Perfil do Twitter @cornetacaipira, postado em 6 de junho de 2022.
Em Campos, interior do estado do Rio de Janeiro, também não é diferente, o atleta Lucas César, que joga alguns campeonatos e em alguns times da cidade, conta como é a vivência dele e a rotina de jogos no município.
Repórter Luis Roberto: Como funciona o seu cotidiano de jogos?
Lucas César: “Então, geralmente eu faço uns três jogos por final de semana, dependendo do lugar e dos horários dos jogos, consigo fechar o final de semana com quatros jogos”.
Repórter Luis Roberto: E qual o máximo de jogos que você já fez em um único dia?
Lucas César: “Três jogos, foi em um feriado, primeiro jogo de manhã às 9h, segundo jogo de tarde 15hrs e o terceiro jogo à noite às 19h30. Foi um dia bem corrido, literalmente.”
Repórter Luis Roberto: Você acha que o futebol amador no município de Campos dos Goytacazes é bem organizado?
Lucas César: “Olha, alguns campeonatos sim, são muito organizados. Acho que hoje varia muito de organizador pra organizador, não proporciona nada de bom, não coloca um troféu de boa qualidade, não coloca umas medalhas, o campeonato não é bem divulgado, não nos passa segurança nos jogos colocando polícia no campo, nem pra gente jogador e nem para os juízes, enquanto tem organizador que faz isso e muito mais, que faz pelo amor ao esporte e para movimentar os bairros”.
Repórter Luis Roberto: Você já sofreu algum tipo de ameaça durante os jogos?
Lucas César: “Acho que todos que jogam futebol já sofreram algum tipo de ameaça nos jogos, eu já sofri sim, mas nada que pudesse atrapalhar a partida, até por que são apenas torcedores, tentando intimidar o jogador adversário para que o seu time possa vencer, então é normal nos jogos.”
Repórter Luis Roberto: E o que ainda te motiva a jogar no futebol amador?
Lucas César: “A pequena ajuda que os times dão. Ajudam com sacolão, uns times dão um valor em dinheiro que não é muito, mas que faz muitos pais colocarem um arroz, um feijão, um leite para os filhos. Ajuda a pagar uma luz. E o que me faz ainda jogar um futebol amador é a visibilidade para que alguém possa me ver jogando e me ajudar levando para algum clube, porque hoje o campeonato amador é a maior visibilidade que temos em nossa cidade para conseguir um clube profissional, então o campeonato amador é uma das "vitrines" pra gente que joga futebol.”
Como se pode ver na entrevista com o Lucas César, jogador de futebol amador em Campos, nem tudo são flores, mas o sonho de ser notado e despontar para um time profissional ainda permanece no coração de muitos meninos campistas. No futebol amador a luta é diária, a precariedade de materiais, de organização, faz com que algumas pessoas tenham medo do que se possa encontrar por lá. Sempre se escuta relatos de juízes agredidos, atletas e técnicos ameaçados. Além disso, na maioria das vezes, os jogadores que se lesionam em campo, não tem nenhuma ajuda com gastos de tratamento, remédios, cirurgias que por ventura podem ser necessárias, tudo acaba saindo do próprio bolso.
No final tudo significa uma única coisa, o atleta de várzea só joga por dois motivos: o amor ao esporte e a sensação de que toda vez que está em campo seu sonho é realizado.

Foto tirada em Campos dos Goytacazes no dia 19 de junho de 2022
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