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Aventuras de um jovem na jovem do Flamengo

  • Matheus Mesquita Ceci
  • 13 de nov.
  • 5 min de leitura

Atualizado: 16 de nov.

Primeira parada: Campos dos Goytacazes


Este foi um trabalho da disciplina Narrativas Jornalísticas II, ministrado para alunos do 4º período de Jornalismo do UNIFLU, em 2024.


Foto do ingresso do dia do jogo, Flamengo x Americano em 1982. (Fotos: Arquivo pessoal)
Foto do ingresso do dia do jogo, Flamengo x Americano em 1982. (Fotos: Arquivo pessoal)

Era 1982 e havia menos de um mês que a Seleção Brasileira tinha perdido para a Itália na Copa daquele ano, Marcelo Brasil tinha 14 anos e acabava de se unir à Força Jovem do Flamengo, uma espécie de torcida organizada. O Clube de Regatas do Flamengo era o atual campeão mundial e brasileiro e disputaria a terceira rodada da Taça Guanabara contra o time do Americano, de Campos dos Goytacazes. Marcelo decidiu assistir ao jogo na cidade do interior com a caravana da torcida jovem. Ele nunca tinha ido assistir a um jogo de futebol fora do Rio de Janeiro, então seria sua primeira viagem — de muitas — para acompanhar o Flamengo fora do Rio de Janeiro.


O jogo seria à tarde de domingo, 1º de agosto, no Estádio Godofredo Cruz, casa do Americano. Marcelo se encontrou com a torcida jovem na noite de sábado, em frente à estátua do Bellini, no Maracanã, partindo em seguida para Campos. Ao entrar no ônibus, Marcelo se deparou com uma figura de ar maléfico: era um homem bem mais velho que os demais, e o que chamava atenção em sua aparência era a careca, motivo pelo qual era conhecido. Marcelo descobriu naquela noite que existia o “julgamento do Careca”, em que o Careca e seus amigos começavam na parte de trás do ônibus e, indo até a frente do veículo, faziam perguntas; se a pessoa fosse “culpada”, começava a levar muitos tapas fortes na região do pescoço e da cabeça. Vendo aquilo, Marcelo ficou bastante assustado e resolveu pegar um casaco da torcida e fechar o zíper até o pescoço para, caso levasse tapas, não se machucar tanto.


Roberto Wagner
Roberto Wagner

Do seu lado estava Roberto, um outro garoto que futuramente faria engenharia com Marcelo. Quando o Careca chegou perto deles, perguntou a Roberto: “Qual é o seu nome?”. Imediatamente, o garoto respondeu: “Roberto”. O Careca olhou para seus companheiros e disse: “Roberto? Então você é o Roberto Dinamite?!”. Naquela época, Roberto Dinamite era o astro do Vasco da Gama, maior rival do Flamengo; além disso, era um dos maiores carrascos do time rubro‑negro. Então o Careca olhou para Marcelo e disse: “Zorro, ele é culpado?” — o Careca o havia chamado de “Zorro” por conta do casaco que cobria seu rosto até o pescoço. Marcelo respondeu: “Sim, ele é culpado”. Quando pararam de bater em Roberto, o Careca virou-se e disse: “Aí, o Zorro é um dedo‑duro! Ele é culpado também!”, começou a rir e a dar tapas em Marcelo, junto com sua turma.


No ônibus também estavam muitas “figurinhas carimbadas” da torcida jovem, que ficaram marcadas na história do Flamengo, como Germano, conhecido por adorar arrumar brigas; “Saci”, conhecido por ser muito gente boa; “Magrin”, por ser muito magro; “Capitão Léo”, muito famoso na torcida; além de Marcelo Simonal, sobrinho do famoso cantor de MPB dos anos 70, Wilson Simonal.


Marcelo Brasil visitando o novo Maracanã
Marcelo Brasil visitando o novo Maracanã

A caravana chegou a Campos pela manhã. Como o jogo era à tarde, o pessoal decidiu conhecer a cidade. Marcelo foi com um grupo de dez pessoas pegar um ônibus local para explorar a região; porém, o pessoal que estava com ele, incluindo Germano, começou a quebrar o ônibus e a pular a catraca. Quando o motorista decidiu parar o veículo, a polícia chegou e os meninos da torcida jovem começaram a fugir, mas um deles estava com a perna quebrada, dificultando a corrida. Marcelo e os outros decidiram voltar para salvar o companheiro, porém, quando voltaram, foram detidos pela polícia. Os policiais os alinharam de frente para o rio Paraíba do Sul, ao lado da ponte de ferro, e começaram a repreendê‑los: “Vocês tão achando que, só porque são do Rio de Janeiro, podem vandalizar a nossa cidade?”. Nesse momento, Germano tentou enfrentar os policiais e levou um tapa na cara. Marcelo, vendo aquela situação, resolveu abaixar a cabeça para evitar ser agredido.


Os dez garotos foram levados à delegacia. Michel Assef, advogado do Clube de Regatas do Flamengo na época, apareceu e conversou com os policiais. Em seguida, foi até os jovens e disse: “Vocês vão ser soltos, mas precisam pagar o prejuízo que causaram no ônibus”. Marcelo e os outros reuniram tudo o que tinham para pagar o prejuízo, e o policial alertou: “Vocês não vão ser fichados, mas, se causarem confusão novamente, vou mantê‑los presos aqui”.

Após saírem da delegacia, Marcelo estava sem nenhum dinheiro, nem para almoçar, nem para entrar no estádio. Ele e outro rapaz que estava com ele resolveram pedir dinheiro nas ruas. Marcelo perguntou ao menino: “Qual é o seu nome? Não te conheço.” O menino disse se chamar Alexandre Ribeiro, mas pediu para chamá‑lo de Alex. Foi então que Marcelo teve a ideia: “Vamos pedir dinheiro às pessoas na rua e explicar que a gente não tinha nada a ver com o vandalismo no ônibus, só estávamos no local com quem fez isso.” Alex aceitou prontamente.


Os dois começaram a abordar os cidadãos locais e a contar o ocorrido. A história do ônibus já estava na boca do povo, então as pessoas começaram a ajudar Marcelo e Alex. No final, eles conseguiram mais dinheiro do que tinham antes. Foram almoçar, mas, quando terminaram a refeição, Alex saiu correndo sem pagar. O dono do estabelecimento correu atrás dele. Durante a fuga, Marcelo lembrou‑se de que, se entrassem em confusão novamente, ficariam realmente presos. Ele chamou o dono do restaurante e disse que pagaria tanto a sua parte quanto a de Alex.


Finalmente, Marcelo foi para o jogo. Depois de tantas confusões, nada poderia ficar pior. Era óbvio que o Flamengo venceria a partida contra o Americano. O time estava com os titulares, exceto o lateral Leandro, que não disputou aquele jogo. O primeiro tempo começou, mas o Flamengo jogava muito mal. Marcelo estava aflito e colocou as mãos na cabeça, dizendo: “Não é possível que o Flamengo vá perder o jogo hoje também”.


O juiz apitou o fim do primeiro tempo. Marcelo, que estava com a torcida jovem, viu Germano muito inquieto. Com medo de ele arranjar confusão novamente, Marcelo ficou em alerta, mas Germano não fez nada. O juiz apitou e iniciou‑se o segundo tempo. O Flamengo continuava jogando mal. Em um momento, o jogador Andrade cabeceou mal, entregando a bola a Jorge Luís, do Americano, que viu o goleiro Cantarelli adiantado e, de cobertura, marcou um golaço.


Nesse momento, Marcelo estava cabisbaixo: “Não acredito que passei por tudo isso hoje para o Flamengo perder”.


Antes de voltar com a caravana para o Rio, a torcida jovem decidiu fazer um lanche num bar. Nesse momento, alguns garotos resolveram roubar a mesa de sinuca. Já frustrado com tudo o que tinha acontecido e querendo evitar confusão, Marcelo decidiu sair de perto e foi direto para a caravana.


Finalmente, Marcelo estava retornando para o Rio de Janeiro. Depois de algumas horas de viagem, a caravana parou no ponto de encontro da ida. Marcelo, depois de toda a aventura, voltou para casa com a sensação de que não tinha acabado por aí e que aquela foi só a primeira de muitas.

 
 
 

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