No litoral de Arraial do Cabo, RJ, um grupo de quatro mulheres foi impulsionado pelos aprendizados do projeto "Mulheres Mil" do Instituto Federal do Rio de Janeiro, Polo Arraial do Cabo e do curso de "Processamento de Pescado" da Fundação Instituto de Pesca do Estado do Rio de Janeiro. Desde então, a união fez a força, e elas se uniram em prol de uma mesma paixão: a pesca artesanal.
As cooperadas da Cooperativa de Mulheres Nativas têm na pesca e no beneficiamento do pescado suas principais atividades econômicas e fonte de renda familiar desde 2014. A sede da cooperativa fica localizada em Arraial do Cabo, conhecido também como o Caribe brasileiro. Mulheres pescadoras artesanais capturam frutos do mar e com eles produzem e comercializam produtos pesqueiros, que vão do salgado ao doce.
No início, as mulheres enfrentaram muita resistência dos pescadores locais, que não aceitavam a presença delas na pesca. "A pescaria é muito vista pelo lado masculino. Quando começamos a pescar em um barco só com mulheres, os pescadores não aceitavam muito. Sofremos muita agressão moral: xingavam, faziam sinal feio, mandavam a gente ir lavar roupa, ver novela", conta Margareth Julião, atual presidente da Cooperativa. Porém, com o tempo, elas foram conquistando respeito e aceitação. "Hoje chegamos para pescar e todo mundo fala, cumprimenta, nos respeita. O pessoal diz 'lá vem o barco das meninas'."
Zenilda Maria, também cooperada e ex-presidente da Cooperativa de Mulheres Nativas, nasceu na pesca e considera uma tradição de família. Ela conta que sempre esteve envolvida nesse mundo e se aposentou em 2008. No entanto, ao descobrir um curso no IFF em Arraial do Cabo, ela se apaixonou novamente pela pesca e decidiu se juntar às mulheres da Cooperativa. “Eu sou apaixonada, a restinga era o nosso quintal. E então me falaram que haveria um curso no IFF aqui de Arraial do Cabo. Foi uma forma de eu retomar essa minha paixão e dividir com as pessoas.” Relata Zenilda.
Apesar das dificuldades, as Mulheres Nativas continuam lutando para manter a cooperativa em funcionamento. Elas já passaram por momentos difíceis, mas sempre encontram uma forma de continuar produzindo. Em 2020, com a pandemia, tiveram que fechar a cooperativa e continuar pagando o aluguel sem renda. Felizmente, contaram com o auxílio de projetos ambientais que atuam na região, como o PEA PESCARTE, que cria uma rede social regional integrada por pescadores e pescadoras artesanais e associações de pescadores.
As Mulheres Nativas provam que a pesca artesanal pode ser uma atividade econômica viável e quebrar barreiras de gênero. Com determinação e paixão pela pesca, elas enfrentam desafios e inspiram outras mulheres a seguir seus sonhos