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Páginas de paixão: a devoção inquebrável pelo Goytacaz Futebol Clube em Campos dos Goytacazes

  • goitacainforma
  • 17 de nov.
  • 5 min de leitura

Este foi um trabalho da disciplina Narrativas Jornalísticas II, ministrado para alunos do 4º período de Jornalismo do UNIFLU, em 2023.


Por: Heitor Castelo Branco e Leonardo Carline

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No coração do interior do estado do Rio de Janeiro, uma paixão intensa une muitos torcedores, todos fervorosos seguidores do Goytacaz Futebol Clube. Às margens do rio Paraíba, a cidade de Campos dos Goytacazes se transforma em um palco onde o futebol se entrelaça com a identidade local. O estádio Ary de Oliveira e Souza, rodeado por ruas movimentadas, é o epicentro dessa devoção que transcende as linhas do campo.


O Goytacaz não é apenas um clube de futebol; é um símbolo de pertencimento, uma extensão do orgulho enraizado na comunidade. Nas arquibancadas, trabalhadores, crianças e idosos encontram um refúgio comum. Suas expressões contêm uma emoção contida, refletindo a comunhão de sentimentos compartilhados enquanto acompanham cada lance do jogo. Em gestos simples e olhares atentos, a narrativa se desenrola.


Nos bares modestos por toda a planície, antes e depois das partidas, os personagens se encontram. As conversas fluem como um rio, carregando histórias de glórias passadas e expectativas para o futuro. A rivalidade com outros times é palpável, mas o respeito pela tradição e pelo legado do Goytacaz une as vozes em um coro inquebrantável, ecoando nas ruas e lares da cidade.


Nesse universo, a maior torcida do interior do estado do Rio de Janeiro se manifesta não apenas nos estádios, mas também nas ruas e nos corações. O Goytacaz não é apenas um clube; é um elo que conecta gerações, um fio condutor que atravessa o tempo, mantendo viva a chama de uma devoção que transcende as limitações do esporte.


Campos dos Goytacazes pulsa futebol, e o Goytacaz é o batimento cardíaco desse amor apaixonado. Em um enredo onde as palavras são medidas, as emoções são intensas, e o jogo vai além das linhas do campo, o jornalismo literário captura a essência desse capítulo na história de uma comunidade unida pela paixão comum pelo Goytacaz Futebol Clube.

E não é por aí que a paixão azul e branca acaba. Nós buscamos alguém aficionado, que falasse sobre a sensação de carregar o “Goytão” em seu coração, e, após o final de um jogo emocionante contra o Clube Nova Cidade, onde “O Mais Querido de Campos” conseguiu um placar de 2 x 1, nas redondezas do estádio Ary de Oliveira e Souza, achamos o Seu José Mariano, sentado em sua cadeira de bar, acompanhado de um generoso copo americano com a famosa “gelada”, vibrando com os amigos a vitória do Alviceleste. Ele aceitou falar conosco um pouco sobre a sua paixão pelo time que o acompanha desde que se conhece como gente.


Em meio aos seus cabelos brancos, Seu José Mariano, campista “da gema”, filho de Seu Geraldo, que sempre trabalhou no campo, lembra de seu pai o levando, junto de seus três irmãos mais velhos, de carroça para a cidade para ver o Goytão no Aryzão em meados dos anos 50. Ele conta que era uma coisa mágica, um sentimento sem igual, e que se sentia especial por pertencer, de certa forma, a uma “tribo”, a qual sempre pensava em um mesmo objetivo: ver o Goytacaz Futebol Clube campeão e jogando com os grandes times do Rio.


Seu José Mariano, que faz questão de que citemos todo o seu nome composto, por orgulho do nome que seu pai e sua mãe lhe deram, abre o coração: “Eu tenho 77 anos, e, há cerca de seis décadas e meia, comecei uma jornada que transcendeu o mero status de torcedor. Naquele sábado ensolarado, ao adentrar o Aryzão pela primeira vez, mal sabia que estava prestes a iniciar uma relação que moldaria minha vida de maneiras inimagináveis!”. Ele conta que o azul, acompanhado do branco do Goytacaz, não era apenas uma cor; era o matiz de uma paixão que se apossou de mim de maneira avassaladora.


“Me lembro da primeira vez que meu olhar encontrou o campo verdinho e as arquibancadas repletas de almas. A atmosfera era elétrica, impregnada de emoções à flor da pele. Aquilo não era só um jogo; era um espetáculo que hipnotizava todos os presentes. Desde então, torcer pelo Goytacaz se tornou mais que uma escolha; foi a adoção de um estilo de vida mesmo.”


Seu José Mariano conta que, ao longo dos anos, testemunhou vitórias épicas, como o 4 a 0 contra o poderoso Fluminense da época, com gols de Sena, Clóvis e Leandro em 1986, mas também derrotas amargas, como o histórico 9 a 0 sofrido pelo Goytacaz contra o Flu. Seu José Mariano preferiu não lembrar quem fez cada gol do time tricolor naquele dia, mas conta ainda que cada gol celebrado e cada lágrima derramada em momentos difíceis fortaleceram os laços entre ele e o Goytacaz. Nos altos e baixos do futebol, aprendeu que a verdadeira devoção vai além dos resultados e que é sobre lealdade aos valores que o clube representa e à comunidade que se forma nas arquibancadas.


Ele ainda conta que, nos dias de jogo do, como ele chama carinhosamente, “Azulão”, sente como se fosse um refúgio dos problemas, onde pode encontrar os amigos de outros carnavais e jogar conversa fora, como um bom torcedor raiz.


Perguntamos sobre as rivalidades com outros times, como o Americano FC, e Seu José Mariano preferiu não comentar muito, pois, segundo ele, gosto é algo muito pessoal. Disse que houve vezes na vida em que pessoas tentaram trazê‑lo para o lado alvinegro da planície, mas nunca tiveram sucesso, e que jura de “pé junto” que nunca traiu o seu maior amor. Ele citou também que as rivalidades são importantes, pois se transformaram em capítulos épicos de uma saga inesquecível. O calor das disputas, a tensão pré‑jogo no clássico bar embaixo do estádio, são partes essenciais dessa narrativa. Ele ainda termina: “Não é apenas sobre vencer; é sobre a jornada compartilhada com outros torcedores, onde as adversidades fortalecem a união.”


Ainda segundo Seu José Mariano, nos aniversários do clube ele celebra não apenas mais um ano de existência, mas mais um ano de devoção. Cada conquista é motivo de festa, não só para o time, mas para todos que são parte dessa família azul e branca. Muitos dos aniversários que Seu José Mariano passou dentro de sua casa foram celebrados com amigos também apaixonados pelo Alviceleste. E ele relata algo interessante: “Meu quarto é um santuário repleto de relíquias que contam a história da minha jornada.” Bandeiras, pôsteres de jogadores, ingressos de jogos memoráveis e até uma camisa do time de 1976 autografada pelo centroavante Neto, a qual ele conta ser seu maior xodó. “Cada objeto é um fragmento do meu amor.”


Seu José Mariano, além de muito letrado e educado, concluiu com um pensamento profundo: “Hoje, ao olhar para trás, percebo que minha jornada com o Goytacaz não é apenas sobre o futebol em si, mas sobre as amizades que nasceram nas arquibancadas, onde cheguei até a conhecer Tunico Pereira. As histórias compartilhadas nos bares no estado do Rio afora e a sensação de pertencimento a algo maior do que eu. Este clube não é apenas um time; é a expressão palpável da identidade de Campos dos Goytacazes.” E afirmou: “Enquanto meu coração pulsar no ritmo azul e branco, sei que essa história está longe de terminar. A devoção ao Goytacaz é um compromisso eterno, uma chama que continua acesa dia após dia, iluminando não apenas os campos de jogo, mas os corações de todos aqueles que, como eu, encontraram na paixão pelo futebol uma razão para viver mais intensamente.” E nós, como meros jornalistas, podemos afirmar que é sim tudo verídico, pois vimos com nossos próprios olhos.

 
 
 

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